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Sobre a mostra “SouFrida”

  Começar um projeto, não necessariamente, é encontrar um caminho único. Este é o caso. A turma 53 do curso Técnico em  Processos Fotográficos foi instigada pela docente Inês Correa a representar o trabalho do artista Man Ray, conhecido como  um dos maiores defensores da fotografia como arte, nos ensaios autorais. Em determinado momento, conversando com a turma para alinhar melhor o projeto, uma das alunas, a Greice, sugeriu a mesma proposta, mas outra artista: Frida Kahlo. A  turma imediatamente topou e o formato do projeto mudou de rumo.  Fazendo este exercício, houve a ideia de ir mais longe, de se desafiar mais e se apropriar do conhecimento de outras unidades  curriculares. O projeto integrador começou a tomar forma e SouFrida deixou de ser só um trabalho autoral da UC12 e se alimentou dos estudos realizados anteriormente em outras disciplinas para se constituir. Surgem técnicas para criação de retratos e still, criação de portfólio e muito mais.     

 A primeira etapa proposta aos alunos foi que realizassem um autorretrato. Afinal, grande parte da obra de Frida Kahlo (1907-1954), é constituída dos retratos que ela fazia dela mesma. Neste momento surge o primeiro obstáculo: a questão do gênero. Que aliás faz parte da exploração da artista. Para as mulheres da turma, olhar Frida e fazer uma recriação de si em fotografia parecia muito fácil. Mas para os homens isso só foi possível depois de diversas tentativas e de estudar gênero  era parte mas não o todo interesse de Frida, mas havia também classe, raça, identidade, dor e muito mais. Seis autorretratos, um de cada estudante envolvido, foram produzidos. Desta etapa surge o nome da mostra: SouFrida.     

  A segunda etapa foi olhar para os autorretratos de Frida e recriar retratos inserindo objetos de cena de interesse. Buscar convidados para participar do trabalho e realizar as imagens no estúdio, com um esquema de luz previamente estudado e buscando pessoas que tivessem interesse na temática. Os retratos fazem parte desta mostra.    

  A terceira etapa, leitura de artigos que contassem mais sobre a artista. Ler e escrever não costumam ser a maneira que  estudantes de fotografia buscam para desenvolver narrativas. Mas no fotojornalismo, uma das unidades curriculares que faz parte do curso, é onde percebem o quanto ler é fundamental e escrever vem na sequencia. Ao se debruçarem em artigos  relacionados a pintora, encontraram sua vida e seus amores, suas dores, a fotografia entre tanto mais. Breves novos ensaios  foram gerados. Descobriram que Frida desenhava obras inspiradas na natureza e colecionava peças do seu estranho figurino.   

  Daí as imagens-objeto. Leram que a artista tinha sofrido na sua vida, desde poliomielite na infância até aborto e o acidente causado pelo choque com um bonde (o corrimão do ônibus perfurou suas costas causando grave fratura pélvica, perfuração  no abdome e no útero, além de três fraturas na coluna). Ela chegou a pintar alguns quadros, um deles com o colete de gesso, tela intitulada A Coluna Partida. Deste encontro com o sofrimento de Frida houve a imersão e desdobramento de imagens  referindo-se a dor. E nos estudos encontraram o pai de Frida, fotógrafo, também importante para seu desenvolvimento.   

  Neste momento falar sobre a própria fotografia em imagem tornou-se elementar. A aluna Auricélia, por exemplo, mudou seu  autoretrato quando encontrou uma das fotografias que o pai de Frida fez dela.Frida vestida de terno, colete e gravata,  construindo uma crítica polêmica de gênero para a época - a aluna buscou figurino e se vestiu de Frida conforme a fotografia.  
  Enfim, a vida e obra de Frida Kahlo, virou para a turma 53 uma riqueza sem fim mostra das fotografias representando seu trabalho está aí para ser vista.  
 
                                                          Aproveitem.  

   

   Inês Correa   

Curadora e Docente de Fotografia

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